O Sonho não tão lúcido do ajudante de pedreiro
Juarez, que era estudante de História mas também era Ajudante de Pedreiro, comeu sua marmita, fumou um cigarro de maconha e foi tirar uma breve 'pestana' no intervalo do almoço. De pança cheia, é quase certo que sempre temos pesadelos, não é?
Mas naquela quase meia hora de soneca, Juarez teve um daqueles sonhos sem pé nem cabeça que todos sonhamos de vez em quando.
Ao acordar, meio confuso e rindo, ele foi em direção dos colegas de obra, de volta ao batente.
O que é que você 'tá' se arreganhando, Juarez? Perguntou o Pedreiro chefe, em tom sisudo.
Juarez, ainda rindo, meio que confuso, disse: tive um sonho meio louco Chefia.
O Chefe, Pedreiro velho já, cansado da semana de muito trabalho, cuspiu no chão e disse: também! Come que nem um cavalo, fuma esse demo de Maconha e vai dormir! O que é que você acha que poderia dar?
Juarez rindo feito uma gaita, responde: desculpe Chefe, é que não consigo parar de lembrar e rir.
Encucado com o Ajudante, o Pedreiro Chefe diz: rapaz, ce tá doidão? Pare de dar risada 'home', se contenha! 'Se atipe piá!'.
E nisso foi chegando outros pedreiros e ajudantes perto do centro do assunto e todos começaram a ver o tipo do Juarez e também começaram a rir. E uns perguntavam, oxe, que diabo deu no 'home'?
O Pedreiro Chefe, não sei se não vamos ter que chamar ambulância pra esse bisonho. Mas, passados uns minutos, Juarez conteve um pouco as suas risadas e começou a contar a história do sonho e dizia: rapaz do Céu. Cê acredita que eu sonhei que tinha sonhado na noite passada? Só que era eu mas não era eu, é como se eu não fosse eu, entende? E ria.
Os trabalhadores rindo da fala de Juarez que também começava a rir diziam: fala 'home'! Se 'atipe!'.
Rapaz, eu sonhei que na noite passada eu sonhei que havia acordado. E nesse sonho doido em outro mundo, vi que as pessoas, bichos tinham virado... A coisa era bem esquisita, na minha cama tinha uma gatinha, pelas ruas tinham muita amebinhas, no trabalho, o patrão, que não era o Chefia aqui mas parecia o senhor, era um cavalo e os colegas, que não eram vocês, mas outras pessoas que pareciam vocês, eram cobras e papagaios.
Os trabalhadores da obra sem entender muito, riam também e diziam, continua Juarez, maluco!
Juarez rindo feio um doido, disse: continuo sim. Na volta pra casa, eu vi os bichos que eram humanos mas que pareciam bichos, dirigindo os carros. E de bicicleta, olhando através dos vidros, dentro dos carros, eu via asnos xucros e dromedários.
Os colegas rindo: vixe maria! Continua doido!
E Juarez, disse: pois não? Na padaria, tinha alguns elefantes e uma girafa de mãos dadas com um porco galante. Mas na rua, na frente da padaria, um mendigo segurava um placa que dizia 'salve o Planeta!' e o cara gritava alto assim: 'BICHADO, BICHADO, É O MUNDO QUE UM DIA FOI SONHADO!'.
Os colegas se partindo de rir: ih, lascou, ai ai ai, continua Juara!
Juarez, tendo dor de barriga já de rir, continuou dizendo: nas igrejas tinha muitas ovelhinhas e eu vi um casamento entre um touro e uma galinha. E na praça, a cachorrada 'tava' de folia, revirando lixos e fazendo o diacho junto de suas cadelinhas.
Colegas: eita porra! Tome tento! Segue lá Jujubarél!
Juarez, chorando de rir, disse: o mais louco, na TV os ratos falavam em inglês: 'Good Morning!'. No governo, as velhas raposas estavam no poder. E o povo, até no sonho louco, dia e noite trampava feito boi, bancando o filé do rico pra comer pão com ovo. Eita 'disgracera', ein?
E quando achei que estava fora do corpo sem estar fora do corpo, sabe como é que é, quando temos essas coisas que dão calafrios e que parece que estamos caindo, antes de cair sei lá de onde, apareceu o mendigo de novo com a placa, mas com outro dizer escrito assim: "FODEU!" e o doido meio que cantarolava a frase: "BICHADO, BICHADO, É O MUNDO QUE UM DIA FOI SONHADO!".
E aí acordei, disse Juarez torto de rir!
Os colegas, uns rindo, outros fazendo cara de ironia, outros cuspindo no chão, outros batendo a poeira do boné, foram se dispersando e dizendo: eita Juarez véio, doido que só vendo 'memo'.
E o Chefe dos Pedreiros que também ria mas se continha para preservar certa autoridade moral diante da tropa de pedreiros e ajudantes, disse: eita 'disgracera', Juarez! Tu é bem doido 'memo'. Bora, se ajeita aí que hoje 'vamo' até as cinco!
E Juarez voltou à realidade. Ainda rindo timidamente e pensando consigo mesmo sobre o sonho mas sobre a interação inédita com os colegas da obra, sentindo como se tivesse dado uma palestra sem dar palestra, dizia mentalmente: a vida é engraçada mesmo. Eita 'disgracera'! 'Vamo lá! Ihulll!'.
Fim.
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Emerson E-Kan e Hómi da Sakola
Crônicas / Filosofia Realista / Supra Realista / Humor Realista, 2022
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